terça-feira, 25 de dezembro de 2012

 " A linha política de Mil Platôs é aquela que leva os dispositivos moleculares dos desejos a resistir à ordem molar, a evitá-la, a contorna-la, a fugir-lhe. O Estado não se reforma nem se destrói: a única maneira de destruí-lo é de fugir a ele. Uma linha de fuga, organizada pela criatividade do desejo, pelo in- finito movimento molecular dos sujeitos, por uma pragmática reinventada a cada instante. A revolução é o evento ontológico da recusa e atualização de sua infinita potencialidade." Antonio Negri

sábado, 1 de dezembro de 2012



é esse o tempo...
no horizonte de uma república
a empresa familiar falida (melancolicamente).
já a liberdade de quem sabe andar torto
celebrando das fissuras toda graça
e, quem sabe, gozar
como efeito (gratuito)
das fissuras das fissuras
o acaso de um encontro






terça-feira, 27 de novembro de 2012

a imoralidade, ainda que negada, é a evidência maior de que toda ordem é mero fruto da vontade.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012


roubei uma pizza

provoquei um casal

mergulhei no mar e na lua

- banho de poesia

(a dois)

fui feliz um dia

terça-feira, 13 de novembro de 2012

"arte e vida não sobrepostos, mas interpenetrados como o ar na água" - que se revela num movimento de turbilhão (espuma) como ato criativo, de um choque mais ou menos violento com o outro (um terceiro).
O POETA
O poeta não cita: canta. Não se traça programas, porque a sua estrada não tem marcos nem destino. Se repete, são idéias e imagens que volvem à tona por poder próprio, pois que entre elas há também uma sobrevivência do mais apto. Não se aliena, como um lunático, das agitações coletivas e contemporâneas, porque arte e vida são planos não superpostos mas interpenetrados, com o ar entranhado nas massas de água, indispensável ao peixe—neste caso ao homem, que vive a vida e que respira arte.
Guimarães Rosa

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

a questão existencial-filosófica crucial é (só pode ser):

- Como se dança isso?

terça-feira, 16 de outubro de 2012

espelho

a vitrine espelhou
o que não interessava
às câmeras de segurança

o homem engravatado acendia o cigarro
do mendigo


COGITO

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.

(Torquato Neto)

sábado, 13 de outubro de 2012

" O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar, 
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..." F.P.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

domingo

onde foi mesmo?
no asfalto branco e cheiro de tinta
a boca aberta à tardinha
o time de homens pretos sob sol
uma garrafa pet arrasta o tempo sobre a mesa
e a outra assovia azulejos
enquanto os canos eficazes guardam
na superfície
a memória de um dia

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

três almas

Bianca e sua filhota brincam na praia
aos olhos negros de ambas
não se sabe quem é a criança, a Clara ou a Bianca

aquela que cuida
aquela que cria
a criança que doa
a que vive a magia

o amor de uma mãe boa
o frescor de uma amizade infante

janela aberta ao sorrir de uma
alma plena ao sorrir da outra

e o fruir silencioso de uma terceira
criança
que intensa
viveu o instante
Teresa

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

(Manuel Bandeira)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

SONETO

Não será sempre assim... Quando não for,
Quando teus lábios forem de outro; quando
No rosto de outro o teu suspiro brando 
Soprar; quando em silêncio ou no maior

Delírio de palavras desvairando,
Ao teu peito o estreitares com fervor;
Quando, um dia, em frieza e desamor 
Tua afeição por mim se for trocando:

Se tal acontecer, fala-me. Irei
Procurá-lo, dizer-lhe num sorriso:
“Goza a ventura de que já gozei.”

Depois, desviando os olhos de improviso,
Longe, ah tão longe, um pássaro ouvirei
Cantar no meu perdido paraíso.

Manuel Bandeira


-- da série "poema-arrepio"...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

essas ranhuras
que me faz na pele
o teu jeito

me ardem
à noite quando deito

que faz já tanta
uma semana

gostosura viva
de um trato
que me lanha