sexta-feira, 17 de janeiro de 2014



Os principais estratos que aprisionam o homem são o organismo, mas
também a significância e a interpretação, a subjetivação e a sujeição. São
todos esses estratos em conjunto que nos separam do plano de consistência e da máquina abstrata, aí onde não existe mais regime de signos, mas onde a linha de fuga efetua sua própria positividade potencial, e a desterritorialização, sua potência absoluta. Ora, a esse respeito, o problema é o de fazer bascular o agenciamento mais favorável: fazê-lo passar, de sua face voltada para os estratos, à outra face voltada para o plano de consistência ou para o corpo sem órgãos. A subjetivação leva o desejo a um tal ponto de excesso e de escoamento que ele deve ou se abolir em um buraco negro ou mudar de plano. Desestratificar, se abrir para uma nova função, diagramática. Que a consciência deixe de ser seu próprio duplo e a paixão, o duplo de um para o outro. Fazer da consciência uma experimentação de vida, e da paixão um campo de intensidades contínuas, uma emissão de signos-partículas. Fazer o corpo sem órgãos da consciência e do amor. Servir-se do amor e da consciência para abolir a subjetivação: "para se tornar o grande amante, o magnetizador e o catalisador, é preciso antes de tudo viver a sabedoria de não ser senão o último dos idiotas"28. Servir-se do Eu penso para um devir-animal e do amor, para um devir-mulher do homem. Dessubjetivar a consciência e a paixão. Não existiriam redundâncias diagramáticas que não se confundem com os significantes nem com os subjetivos? Redundâncias que não seriam mais nós de arborescência, mas sim retomadas e precipitações em um rizoma? Ser gago de linguagem, estrangeiro em sua própria língua,
"ne do ne domi ne passi ne dominez pas
ne dominez paz vos passions passives ne
.......
ne do dévorants ne do ne dominez pas
vos rats vos rations vos rats rations ne ne...29

28 Henry Miller, Sexus, p.307. O tema do idiota é ele mesmo bastante variado. Percorre explicitamente o cogito, segundo Descartes, e o sentimento, segundo Rousseau. Mas a literatura russa o arrebata para outras vias, para além da consciência ou da paixão.

29 Gherasim Luca, Le chant de Ia carpe, p.87-94.
Deleuze e Guattari - 587 A.C. - 70 D.C. - SOBRE ALGUNS REGIMES DE SIGNOS - Mil Platôs 2

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Chez Deleuze

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