terça-feira, 5 de março de 2019

Começou dizendo que toda relação de amor é uma relação de poder, mas que nem toda relação de poder é uma relação de amor e que, ali, ninguém precisava se amar, mas que isso poderia acontecer no decorrer do processo, que isso provavelmente aconteceria quando o poder, sempre inevitável entre os corpos, fosse de algum modo encantado e distraído pela precisão da força de algum poderoso pensar, que tal precisão poderia nos trazer uma vontade de trair o que teríamos sido até então e uma nova tradição, com novos casamentos e filhos de uma pulsação sanguínea apaixonada por um ir comum, se faria possível, que tal precisão também poderia gerar indiferença ou ódio entre os que preferem não pensar para além da utilidade de certos graus de instrução, que tal precisão só nasce de um modo incalculável, movida por algum tique que escapa ao programa da disciplina e que, portanto, ele ainda não sabia, não poderia saber se ali se daria o acontecimento de tal precisão e que, por hora, não tinha mais nada a dizer e perguntou se alguém gostaria de se manifestar e, após a manifestação coletiva de um quase silêncio de alguns minutos, encerrou a aula cerca de 80 minutos antes do tempo previsto no regulamento. - André Monteiro Conto Escolar (Para Roberto Cossan)

Nenhum comentário:

Postar um comentário